O tic-tac teimoso do relógio de parede tornava a minha espera ainda mais ansiosa. Já fazia uma manhã inteira desde que a minha mãe me acordara, rapidamente tomava sentido no tempo apesar de naquela altura não ter ainda noção concreta do mesmo. A ambiguidade das memórias de infância trazem a plataformas de entendimento quase no limiar do inexplicável.
Era de facto uma manhã como tantas outras…
O telefone tocara alto no quarto de meus pais, não era comum mas em nossa casa já havia fichas de telefone espalhadas pela casa fruto dos namoros e conversas privadas dos meus irmãos mais que adolescentes. No outro lado da linha gritava de espanto o Manuel Pastor: É pá oh Luís, temos um golpe de estado, liga o rádio…O burburinho era tal que num frenesim apocalíptico meus irmãos num ápice se levantaram e correram para a rua, depois é tudo aquilo que toda a gente já se cansou de falar…a revolução, que para mim naquela altura não fazia sentido nenhum, a minha protecção mantinha-se inabalável, a minha casa, os meus pais, estava tudo igual…seria sempre assim que o meu coração desejava, a harmonia de crescer com todo o amor do mundo…não entendi como tudo se desmoronou, nem quando começou…
A vida vai pregando as partidas, aquelas a que nos vamos habituando, depois vêem as outras, as difíceis de engolir, que custam a ultrapassar, que fazem perder noites de sono, embrulham o estômago dando lhe ordens de greve de fome…nauseando o espírito, quem dera que pudéssemos ou conseguíssemos planar sobre os problemas sem sentir todo o misto de emoções transbordantes…mas não era suposto ser assim… porquê ?? porquê??...não era .. .já disse . Um arrepio desfragmentado percorre o meu corpo…corpo que não é o meu, esta não sou eu…apenas um espectro do meu verdadeiro ser…algum dia voltarei a reencontrar-me comigo mesma?
O prenúncio de morte abala o mais realista…mas quase que deixa de fazer sentido, de magoar, o calejado… a dor da perda real é imensurável, mais um dia que passa e tudo ficou na mesma, será este o fim de tudo?. Quando não existe nem explicação, nem vontade de tal…já me questionei vezes sem conta, já passei pelo turbilhão, já submergi, já me levantei.. já subi bem alto ao topo do mundo e gritei, já desesperei, chorei, gritei, agora…só me resta esperar…tudo tem uma razão de ser…não se tira nada da mão de uma criança sem que depois se conforte a mesma, não é possível…tem que estar algo para acontecer…eu ainda não percebi…julgava-me eu astuta…era tudo mentira…viver afogada numa culpa mortal, nunca me abandonará a dor…era bom demais..eu deveria saber…quem sou eu para julgar que a felicidade está à distância de um tic ou de um tac de um relógio teimoso de parede…
Se algum dia alguém vier e suspirar…se algum dia alguém vier e sussurrar ao teu ouvido uma mensagem de amor…dá-te mas não acredites…isso não existe…dura um período que parece ser infinito…mas tal como as borboletas no estômago…desaparece num dia qualquer... numa manhã submersa de angústia depois da primeira decepção…não…não era suposto ser assim… porquê?? porquê??...tinha que ser comigo…ansiava tanto pelo término da dor…acreditava piamente num futuro cheio de Fé, de paz de espírito, de partilha, de amor, como é duro acordar….é difícil conceber tal sentimento…tanta dor…tanta…mas já devia saber…que seria assim como dizem os antigos não há mal que nunca acabe, nem bem que sempre dure…e este bem era maior que a vida até ora vivida…era o mais precioso e augurava um futuro ainda mais rico…….eu só queria ser feliz…
Never underestimate the power of God !!!!.....
Jamais devemos sobrevalorizar as pessoas nem os sentimentos…somos traídos na primeira curva….
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